Fábrica das Flores
Ariadne começou a pintar as tendinhas de beira de estrada, que podem ser vistas na BR 116, na companhia do artista plástico Flávio Scholles. As tendinhas que se vê de passagem, muitas vezes em alta velocidade, são olhadas demoradamente pela artista e traduzidas através das suas técnicas de pintura e desenho. Os trabalhos de maior dimensão são feitos com a técnica de pastel oleoso. A tentativa de retorno à figura humana não contentou a artista. Foi aí que surgiram as tendas da beira de estrada, com o colorido serial das beterrabas, cebolas, etc. Este trabalho também possibilitou o contato com a "fábrica das flores" de Ivoti: "São manchinhas que o nosso olhar transforma em flores", considera Ariadne. A Colônia Japonesa da cidade de Ivoti, vizinha de Novo Hamburgo, suas plantações de margaridas, as estufas e, finalmente, os pacotes com jornais, formam a série “Fábrica das Flores”. Nela a flor não é um elemento romântico, é um produto industrial, como qualquer outro.
Na obra: "Pacotes com Jornais”, Ariadne mostra o empacotamento dessas flores antes do armazenamento em câmaras geladas. As referências dos textos dos jornais completam o trabalho, algumas vezes, proporcionando a localização geográfica e temporal, em outras vezes refletindo sobre algum tema, mas sempre despertando a curiosidade do espectador.
Olhar a natureza, uma paisagem, árvores, flores é sempre uma relação tranquila, pois são coisas de cujas formas não somos responsáveis. Apropriar-se destas formas, comprometer-se com elas é tarefa do artista no processo, motivo e criação. Na natureza a flor não se propõe ser bela, essa significação é atribuída pelo espectador. Na obra de Ariadne, o elemento flor é significante, como forma expressiva. Tecnicamente, valendo-se do desenho, coadjuvado pela cor, faz da linha uma escrita conferindo ao motivo “flor” uma leitura plástica da forma natural. Associa-se a essa proposta o uso de jornais envolvendo ramalhetes cujos letreiros são aproveitados minuciosamente compondo um espaço único de delicadas texturas gráficas. Explora uma riqueza expressiva e vital que nos convida a compartilhar do próprio sentimento da artista pela “leitura” poética e enriquecedora, razão da ARTE.
"Minha compreensão da realidade passa pelo múltiplo e nele a busca da individualidade. Somos uma multidão de seres únicos. A estética caótica dos elementos em série, a multiplicidade, seja na quantidade de elementos ou na divisão da obra, me fascinam. O romantismo está nos olhos de quem vê. Flor, mercadoria material, produto pesquisado, modificado e adaptado ao mercado. Os pacotes são o meio, a embalagem. Função final para os jornais. O contraste dos periódicos, ironicamente, com as manchetes de massa, particularizam, personalizam cada quadro, onde a presença humana fica registrada pela sua ação. Os textos ora questionam, ora divertem, fazem homenagens, não raras vezes passeiam livres ao sabor do acaso, mas sempre instigam a imaginação. Afinal, viver é uma arte (Ariadne Decker)."