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Couro é Arte!

Depois de ter feito a série Lixão, em 1988, a artista deixou-se tomar pela obsessão da repetição de objetos e começou a investigar a complexidade de um mundo repleto de coisas, que dizem muito sobre o ser humano, sua presença no mundo, e como ele transforma essa realidade através do seu trabalho, da sua cultura. Cada quadro ou cada série de trabalhos pode ser algo interminável, falando de coisas que não tem fim. As características do trabalho industrial coureiro-calçadista, no qual possui muitas influências na região do Vale do Rio dos Sinos, estão presentes de maneira incisiva desde 1996 entre os temas de suas pinturas. São uma fonte de elementos plásticos que permitem um aprofundamento no conhecimento dos fazeres da pintura e do desenho. 

A disposição em série, que é uma característica da cultura da era industrial e das maneiras do mundo social organizar-se e relacionar-se com a natureza na modernidade, é o mote poético que perpassa muitos dos trabalhos da artista. Ela criou uma relação identitária muito forte com as comunidades do Vale do Sinos, por revelar um olhar criativo sobre o cotidiano industrial, através de quadros em que se acumulam couros, sapatos e caixas de sapatos. Mas o tom lúdico como trata a repetição da vida moderna também tem continuidade com os buquês de flores enrolados em jornal ou nos brinquedos de crianças.

Como uma artista plástica inserida num universo rodeado pela tradição coureiro-calçadista deixaria de lançar um olhar sobre esse produto? Impossível. Ariadne está impregnada pela arte de desenhar e pintar calçados em Novo Hamburgo, desde 1995. Enxergar recantos de texturas onde o olhar corriqueiro não alcança. “Este é o lado bonito da produção de calçados”, diz Ariadne. No seu caso, os quadros falam por si. O sapateiro dos primórdios da indústria calçadista brasileira é dono da sua arte, assim como um almoxarifado desarrumado, impresso na tela em que a técnica é o pastel a óleo e a tinta acrílica. Ariadne vê arte, tecnologia, a nobreza do couro, tudo fora de lugar, mas estranhamente organizado, à espera das mãos que transformam. Inclusive, as mãos da artista. “Nós somos uma multiplicidade da individualidade. Ou tu massificas tudo, ou individualiza”, diz. Participa ativamente em feiras calçadistas pelo Brasil.

Em 2005, o reconhecimento pelo seu trabalho a levou a expor na WSA Shoe Show, em Las Vegas, nos EUA. O calçado não sintetiza o seu trabalho. Não é o acaso que a trouxe e cruzou  seus caminhos no Vale do Sinos, o berço calçadista brasileiro. Existe bem mais que acaso na sua obra. Aquele que identifica beleza naquilo que há de mais simples no mundo da moda: um par de sapatos. 

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